FC19#4 🦠Desinfodemia: a nova praga virtual
Desinformação nas redes sociais, desigualdade de gênero na cobertura da pandemia e o tributo a vidas ceifadas são nossos destaques
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📅18/05/2020
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⌚Hoje temos uma contagem de 1570 palavras, ou uma leitura de 7 minutos.
🤕Desinfodemia: nova praga nas redes sociais já busca desacreditar vacinas
Foto de Tatyana Nekrasova
Na quinta-feira (14/5) profissionais e organizações de saúde de vários países lançaram uma campanha internacional pedindo ações para combater informações falsas divulgadas na internet sobre a pandemia. Um manifesto foi publicado na mesma data em jornais nos Estados Unidos e no Brasil.
O documento faz um apelo para que as gigantes de tecnologia combatam a disseminação de desinformação sobre a saúde e enviem a cada usuário que interagir com esses conteúdos falsos uma correção sobre o assunto tratado.
A British Medical Journal publicou estudo que revela que mais de um quarto dos vídeos mais assistidos no YouTube sobre a pandemia contém informação enganosa, alcançando milhões de espectadores no planeta. No Brasil, 21 estados e o DF já propõem projetos para multar quem divulga fake news na pandemia
Segundo o manifesto da campanha internacional:
As empresas de tecnologia que facilitaram a disseminação de idéias e que lucraram com ela têm o poder e a responsabilidade de conter a disseminação mortal de desinformação e fazer com que as redes sociais parem de adoecer as nossas comunidades.
A preocupação tem fundamento. Movimentos antivacina já começam a se mobilizar e viralizar notícias infundadas em newsletters, ‘pegando uma carona’ na pandemia. Já circula na rede um abaixo-assinado que já conta com mais de 400 mil assinaturas, reivindicando a não-obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19.
O temor dos especialistas em saúde pública é de que, com estes rumores, desestimulem a adesão das populações à vacinação, quando esta for viável. Uma baixa cobertura vacinal jogaria no lixo milhões de dólares que estão sendo investidos no desenvolvimento da tão aguardada vacina.
Na semana passada, um vídeo retratando pseudociência e teorias conspiratórias absolutamente absurdas sobre o vírus ganhou espaço indevido nas redes sociais: Plandemic. Pelo menos, este lixo 🤮 já serviu para um interessante estudo de caso sobre como jornalistas combatem a desinfodemia. O Poynter Institute reuniu sete estratégias empregadas por eles para lidar com teorias conspiratórias, tomando o caso do Plandemic como base.
Muita especulação tem havido sobre quando teremos uma vacina. E mesmo, fora do campo das fake news, muitos coleguinhas (talvez bem intencionados) têm reverberado estimativas tecnotimistas sobre sua provável data de lançamento. Gerar expectativas irrazoáveis também é combustível para desinfodemia e para frustração de expectativas.
Com expectativas frustradas, o risco de o leitor preferir as fake news aumenta. Ao depor no Senado americano como testemunha, Anthony Fauci, um dos principais integrantes da Força-Tarefa contra o Coronavirus, já disse que não acredita numa vacina disponível para este ano.
Kevin Roose traz uma interessante análise no New York Times sobre toda a desinformação envolvendo a pauta das vacinas. Roose destaca que, nesta guerra entre bandido e mocinho, os primeiros têm levado a melhor. Afinal, eles manejam com maestria as redes sociais; e os profissionais de saúde pública, em regra geral, não.
Outro complicador é o tal do “ouvir-todos-os-lados-da-questão”. Em meio a uma desinfodemia, pode não ser uma boa política. É o que pensa Christina Pazzanese, da Harvard Gazette, e com razão. Diz ela:
Em muitas redações importantes, repórteres e editores sem treinamento médico ou de saúde pública foram transferidos para cobrir a pandemia em andamento e estão se esforçando para se familiarizar com terminologias, metodologias e pesquisas científicas complexas e, em seguida, identificar e examinar uma lista de fontes confiáveis. Como muitos ainda não têm conhecimento suficiente para relatar criticamente, e com autoridade, fatos sobre a ciência, às vezes podem se apoiar demais nos valores tradicionais do jornalismo, como equilíbrio, novidade e conflito. Ao fazê-lo, levantam contra-argumentos e hipóteses imprecisas, tornando tudo mais confuso.
Ou seja, o “dogma da objetividade”, em tempos de desinfodemia, talvez precise ser revisto. E nunca me esqueço de frase espirituosa que li há muitos anos, que ilustrava a inconveniência de tal dogma, quando seguido ao pé-da-letra:
Objetividade é 1’30” para Hitler; 1’30” para os judeus. 👎👎👎
Sorry, mas evidentemente, há momentos em que a tal da objetividade (o ouvir-todos-os-lados) presta um desserviço ao leitor.
📺Pandemia acentua desigualdade de gênero na mídia
Foto de Markus Spiske
Na semana passada, aqui na FC19#3, informamos que o The Guardian publicara artigo, dando conta de que, em março, na cobertura da Covid-19, para cada fonte qualificada do sexo feminino, ouvida em programa de rádio ou TV no Reino Unido, havia 2,7 fontes do sexo masculino. Agora, a World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-INFRA) lança Women in News, um guia prático para profissionais e organizações de mídia, visando oferecer recursos para promover a igualdade de gênero em sua atuação.
Segundo os organizadores da publicação, a indústria midiática tem uma relação direta com a perpetuação da desigualdade, excluindo de seu conteúdo vozes, narrativas e opiniões das mulheres e usando linguagem que as retrata de forma estereotipada.
Para Melanie Walker, diretora executiva do projeto, mais que uma questão de responsabilidade moral, a igualdade de gênero faz bem ao bolso das organizações.
As mulheres são mais propensas a ler conteúdo em que se vejam representadas e, no entanto, são vistas, ouvidas ou lidas apenas 25% das vezes em média. Especialmente agora, quando dependemos da mídia para nos contar os fatos sobre nossa saúde e segurança - talvez mais do que nunca! - é importante que todas as vozes estejam representadas.
✅Crise, mas também oportunidade! Foi exatamente o desigual quinhão da COVID-19 sobre as mulheres que motivou um grupo a promover o lançamento de um projeto digital que busca dar conta das políticas da pandemia e seu impacto sobre elas: o 19th. O Nieman Lab entrevistou sua editora, Emily Ramshaw.
✝Jornalismo traz novas formas de ‘elaborar’ o luto
A elevada mortalidade provocada pela Covid-19 tem dado relevo a uma seção dos jornais que, no Brasil, nunca desfrutou de maior prestígio: o obituário.
Por razões de biossegurança, familiares e amigos (a não ser em pequeno número) estão impedidos de despedir-se dos seus parentes e amigos do modo que estavam acostumados.
Os jornais, então, têm se convertido no panteão que tem dado grandeza épica a vidas ordinárias, que passariam despercebidas neste momento de dor, não fossem tais tocantes iniciativas.
O The Washington Post, o The Seattle Times, e o Boston Globe investiram em memoriais digitais para lembrar as vítimas. Atento a esta mudança em nossa “estrutura de sentimento”, o The Washington Post ouviu experientes redatores de obituários do Boston Globe e do Chicago Sun-Times, entre outros.
Elahe Izadi, que escreveu a matéria, resume bem a valorização que este gênero jornalístico tem experimentado, nestes terríveis dias que correm:
Os redatores de obituários há muito tempo vêem seu trabalho como uma arte destinada a capturar a totalidade da vida de formadores de opinião ou celebridades locais. No mínimo, a existência de um obituário mostra que a vida de uma pessoa foi suficiente para justificar seu relato em forma de texto.
✅ No Brasil, O Globo saiu na frente, em 30 de abril, com seu elegante projeto Inumeráveis, idealizado pelo artista plástico Edson Pavoni. O núcleo central da iniciativa, que, inicialmente, prestou tributo às primeiras 10 mil vítimas da pandemia no país, é formado por mais oito profissionais, ativistas sociais, comunicadores e artistas. Outros 23 jornalistas voluntários engrossam o time.
✅ Em Nova Iorque, uma das cidades mais afetadas no mundo pela pandemia, o The City tem a ambição de narrar as histórias de 95% das primeiras 20 mil vítimas da Covid-19.
✅O que surpreende em todas estas iniciativas é a homenagem que prestam sem resvalar para o melodrama, um gênero literário com o qual a cultura de massa mantém relações ancestrais.
Afinal, a lógica dramática do melodrama e os meios de comunicação de massa, especialmente a televisão e o cinema, parecem nascidos um para o outro, como nos lembra Ivette Huppes. Notadamente pelo fato de o melodrama ser um gênero dramático com feições de crônica, que apresenta uma grande clareza de objetivos, quanto às reações a serem produzidas no espectador.
Assim, poupando-nos do recurso fácil ao melodrama, estes jornais nos brindam com uma pedagogia do olhar, tão em baixa em tempos de banalização da imagem.
Rápidas
✅MULHERES EM RISCO NA LINHA DE FRENTE: As mulheres representam o maior contingente profissional no cuidado aos pacientes com Covid-19. Trata-se, assim, do grupo mais exposto a riscos. Os problemas que elas vêm enfrentando e as estratégias para lidar com eles foram reunidos no trabalho “A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de Covid-19”, realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) que integram a Rede CoVida, com base na revisão de 57 artigos. Os resultados serão apresentados HOJE (18/5) ‼ no webinar de lançamento do Boletim CoVida #5, às 14h. O webinar também será transmitido ao vivo pelo YouTube. Inscrições pelo Zoom.
✅COMO COBRIR A PANDEMIA NO BRASIL? A Rede CoVida acaba de lançar o manual intitulado Como cobrir a pandemia da Covid-19 no Brasil? Orientações e Glossário para jornalistas. O material é produto de um levantamento, em fontes nacionais e internacionais, das principais diretrizes para jornalistas que cobrem a pandemia da Covid-19, contextualizadas para a realidade brasileira.
✅A PANDEMIA TEM SOLUÇÕES: Nós, da Fiocruz, apoiamos a qualificação do Jornalismo em Saúde no Brasil através de várias ações. Uma delas, e que temos divulgado aqui, é a abordagem do Jornalismo de Soluções. A Solutions Journalism Network (SJN) tem webinars incríveis sobre esta abordagem aqui nesta thread.
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Essa newsletter foi preparada para você por Cláudio Cordovil (DCS/ENSP/Fiocruz) .
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🧪Documentos Técnicos produzidos pela Rede Covida
A Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade disponibiliza documentos produzidos por sua equipe de pesquisadores com o objetivo de apresentar informações que possam ajudar a população e os profissionais de saúde a esclarecerem questões sobre o novo coronavírus, com base na melhor literatura científica disponível.
Notas técnicas
Boletins epidemiológicos
#3 - Testes diagnósticos
#2 - Os impactos das medidas de distanciamento social e redução de fluxo intermunicipal na Bahia (11/4)
#1 - Destaque à situação da Bahia (3/4)